O 1º Festival dos Apanhadores e Apanhadoras de Flores Sempre-Vivas, que acontece neste momento, traz para o coração de Diamantina (MG) a diversidade de culturas das comunidades de Raiz, Mata dos Crioulos, Macacos, Inhaí, São João da Chapada, Vargem do Inhaí e Braúnas, além de representantes dos povos geraizeiros, vazanteiros, veredeiros, caatingueiros e quilombolas da Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais.
A atividade foi marcada pela entrega ao representante da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação no Brasil, Alan Bojanic, do dossiê sobre o plano de conservação do Sistema Agrícola Tradicional (SAT) mantido pelos apanhadores de flores das comunidades, em sua maioria quilombolas.
O documento foi elaborado pela Codecex – Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas e comitê técnico científico, em parceria com a HEKS – Hilfswerk der Evangelischen Kirchen Schweiz, o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), o Governo do Estado de Minas Gerais, prefeituras onde as comunidades estão localizadas e universidades.
Sendo a candidatura aceita, o SAT das apanhadoras e apanhadores de flores sempre-vivas será o primeiro do Brasil a receber a denominação Globally Important Agricultural Heritage Systems (GIAHS), que em português significa Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM).
Essa conquista possibilitará a prática agrícola tradicional em áreas das unidades de conservação da região, criação de protocolos bioculturais e boas práticas de consumo da água, bem como o acesso dos apanhadores e apanhadoras de sempre-vivas aos programas de comercialização dos produtos, aperfeiçoamento das técnicas de manejo das espécies, promoção do uso das sementes crioulas (nativas) e raças de animais locais.
Também implicará na divisão de responsabilidades na preservação do SAT e da biodiversidade da parte mineira da Serra do Espinhaço entre os poderes públicos estadual, federal e municipais. As partes ainda firmam compromisso com políticas públicas nas áreas de transporte, educação, saúde, certificação das comunidades e povos tradicionais, regularização fundiária e titulação dos terrenos.
A atividade teve início no dia de ontem (21/07), com uma mesa sobre ‘Território, vida e liberdade para as comunidades tradicionais da Serra’, a qual contou com a contribuição de representantes do Movimento Geraizeiro e da Articulação Rosalino Gomes.
O festival também foi marcado pela exibição do documentário sobre o SAT das apanhadoras e apanhadores de flores sempre-vivas, produzido pelo cineasta Tiago Carvalho, e pelas apresentações de música regional.
Fonte da matéria: CAA — Fotografias de © Michel Becheleni / Rupestre Imagens